A doença inflamatória intestinal (DII) é uma das doenças crônicas mais comuns e com maior impacto na gastroenterologia pediátrica envolvendo evolução crônica e períodos de agudização relacionados à ativação de um processo inflamatório no trato gastrointestinal. Os avanços de pesquisas e métodos diagnósticos permitiram uma melhor compreensão de diversos aspectos da DII, sendo uma delas a relação da doença com aspectos genéticos, microbiota intestinal e imunologia, tendo a dieta um papel importante na evolução do tratamento.1
Objetivo:
- Alcançar e manter a remissão;
- Interromper a progressão da doença;
- Fornecer nutrição adequada para o crescimento.
Há também um foco em limitar os efeitos colaterais de medicamentos potencialmente prejudiciais e reduzir cirurgias e hospitalizações, juntamente com objetivos holísticos, como melhorar a qualidade de vida e facilitar o suporte.
A Doença de Crohn pode ter um fator genético que não pode ser alterado, mas a farmacoterapia e a dieta podem abordar fatores associados ao sistema imunológico, microbiota e meio ambiente de uma pessoa.
A farmacoterapia da DC é utilizada para interromper a reação do sistema imunológico e ajudar a bloquear a inflamação; entretanto, os medicamentos podem não abordar os fatores ambientais que causam DC. As intervenções dietéticas adequadas podem atender a todas essas necessidades conforme figura 1:
Infelizmente em crianças, a doença de Crohn pode comprometer o crescimento e o atraso da puberdade com consequências permanentes e devastadoras. Por isso, muitas pesquisas destacam a importância da composição da dieta e terapia nutricional enteral para tratar o déficit de crescimento e induzir a remissão da doença de Crohn, apresentando bons resultados.
Composição da dieta e a relação com a Doença de Crohn 3-9
As evidências comprovam que a composição da dieta e a resposta imunológica podem afetar a microbiota intestinal de uma pessoa, o que tem ligação direta com a inflamação da mucosa intestinal:
Dieta rica em fibras 3-5
Composição da dieta:
Cereais, leguminosas e fibras.
Promove uma microbiota intestinal com uma grande variedade de espécies bacterianas capazes de extrair energia metabólica de polissacarídeos vegetais ingeridos. Isso leva à produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que ajudam a controlar a inflamação e melhorar o metabolismo energético da célula epitelial na colite.
Dieta ocidental 7-9
Composição da dieta:
Pobre em fibras e rica em gordura total, proteína animal, ácidos graxos poliinsaturados e açúcares refinados.
Redução dos níveis de ácidos graxos de cadeia curta. Alterações na composição do microbioma e atividade metabólica (disbiose), aumento da permeabilidade da barreira epitelial e perda da tolerância do sistema imunológico.
Dieta mediterrânea 7-9
Composição da dieta:
Frutas, vegetais, grãos inteiros e frutos do mar.
Alta diversidade do microbioma, uma barreira epitelial intestinal intacta e uma função imunológica equilibrada.
As alterações do microbioma associadas à DC podem levar à inflamação e aos sintomas de DC. A disbiose, por exemplo, está associada à baixa ingestão de fibras e alta ingestão de gordura e açúcar, além de glúten, emulsificantes e taurina. Patogenicidade bacteriana, virulência, translocação epitelial e adesão da mucosa também estão associadas a muitos desses fatores dietéticos, bem como à ingestão de maltodextrinas, alta ingestão de proteína animal e baixa ingestão de amido resistente.10
Sendo assim, existe a hipótese de que, combinada com fatores genéticos, a inflamação de baixo grau causada por uma dieta ocidental pode levar ao desenvolvimento da Doença de Crohn, conforme concluiu um grande estudo epidemiológico de 26 anos constatando que o risco de DC estava inversamente associado ao nível de consumo de frutas e fibras. 11,12
Portanto, a Dieta de Exclusão da doença de Crohn (DEDC) se mostra uma alternativa eficaz no tratamento da inflamação associada à DC.
Dieta de Exclusão da doença de Crohn (DEDC) 12 -19
A DEDC foi desenvolvida em 2011 pelo Prof. Arie Levine, como um plano alimentar comprovado com um alto nível de evidência de eficácia.
Características: A DEDC exclui fatores dietéticos potencialmente pró-inflamatórios para ajudar a reduzir a inflamação e melhorar o equilíbrio do microbioma. A dieta usa alimentos que podem ser amplamente acessados e inclui receitas e um programa de apoio (ModuLife, veja no site da Nestlé):
A DEDC é equilibrada em necessidades nutricionais, é palatável e inclui alimentos permitidos, proibidos e aqueles que podem exigir exclusão ou exposição reduzida dependendo do indivíduo.
A DEDC é composta por três fases definidas por quais alimentos, e quanto podem ser consumidos em cada uma junto ao Modulen:12,14
Veja a lista de alimentos permitida para cada fase.
Resultados16
Segundo dados de pesquisa de Sigall Boneh, a maioria dos participantes respondeu à terapia dietética na Semana 3. 75,4% daqueles que obtiveram resposta na Semana 3 apresentaram remissão na Semana 6 onde poderão seguir pelo resto de suas vidas comendo os alimentos da fase 3.
Se uma pessoa não responder na Semana 3, sem outros marcadores biológicos indicando sinais de melhora, isso pode indicar a necessidade de abandonar a dieta e iniciar outros tratamentos em vez de persistir até a Semana 6.
A DEDC pode constituir uma estratégia nutricionalmente balanceada de longo prazo, se seguida de forma adequada, contribuindo para a remissão clínica e bioquímica e na cicatrização da mucosa, presentando maior tolerância e adesão dos que as dietas enterais.
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Referências bibliográficas
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Os avanços de pesquisas e métodos diagnósticos permitiram uma melhor compreensão de diversos aspectos da DII, sendo uma delas a relação da doença com aspectos genéticos, microbiota intestinal e imunologia, tendo a dieta um papel importante na evolução do tratamento. Confira.
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