Neste conteúdo iremos abordar:
- 1- Prevalência de cardiopatias congênitas em crianças;
- 2- Desnutrição em crianças com cardiopatia congênita;
- 3- Importância da Terapia Nutricional.
A cardiopatia congênita pode ser definida como uma “anormalidade estrutural macroscópica do coração ou dos grandes vasos intratorácicos, com repercussões funcionais significantes ou potencialmente significantes”.1,2
Essa condição tem etiologia multifatorial e pode ser decorrente da interação entre predisposição genética e fatores ambientais intrauterinos (como uso de drogas ilícitas), ou ainda entre fatores pós-natal e anormalidades hemodinâmicas.3
Prevalência de cardiopatias congênitas em crianças
As cardiopatias congênitas podem ser divididas em 2 grupos: acianogênicas e cianogênicas. Essa classificação é feita de acordo com a repercussão hemodinâmica, sendo que: 3,4
Estudos apontam que enquanto as cardiopatias congênitas acianogênicas são as mais prevalentes, as cianogênicas apresentam uma alta mortalidade, principalmente nos primeiros dias de vida, por terem uma maior repercussão hemodinâmica.5
É válido mencionar que as cardiopatias congênitas respondem por 40% dos casos de todos os defeitos congênitos, dessa forma, considerada uma das malformações mais prevalentes, sendo que sua incidência é de 4 a 19 entre 1.000 nascidos vivos.6
Em países desenvolvidos, estima-se que malformações cardíacas são a principal causa de mortalidade infantil, sendo responsáveis por 1/5 das mortes.7
Desnutrição em crianças com cardiopatia congênita
O quadro de cardiopatia congênita em crianças geralmente está associado à desnutrição. Estudos apontam que, de acordo com a amostra e com a metodologia para avaliação do estado nutricional, a prevalência de desnutrição pode atingir de 24% a 90% dos pacientes pediátricos.9-11
O quadro de desnutrição apresentado por grande parte dessa população, pode ser em decorrência de diferentes causas, tais como:
Todos esses fatores interferem no consumo alimentar, fazendo com que permaneça abaixo das recomendações, influenciando assim no estado nutricional da criança, levando ao comprometimento das reservas de energia e de proteínas.3
Além disso, sabe-se que crianças portadoras de cardiopatias congênitas também apresentam elevado gasto energético, devido às condições clínicas provocadas pelas alterações cardíacas.13
A partir do quadro de desnutrição, podem surgir complicações, tais como:13
Importância da terapia nutricional
Visto isso, nota-se que intervenções que visem a manutenção ou recuperação do estado nutricional são essenciais, visando um melhor prognóstico para a criança com cardiopatia congênita. É importante ressaltar que a terapia nutricional mais adequada deve ser avaliada juntamente com equipe multidisciplinar e deve considerar aspectos como: idade, tipo de cardiopatia congênita, gravidade e estágio de tratamento.
A terapia nutricional enteral é indicada para muitos casos, considerando o cansaço que esses pacientes sentem ao se alimentar via oral, o que dificulta o atingimento das necessidades nutricionais.13-16
Já as recomendações recentes para crianças moderadamente desnutridas sugerem uma ingestão calórica de 90-110 kcal/kg/dia, garantindo uma ingestão de proteína enteral de pelo menos 1,5g/kg/dia para evitar um balanço proteico negativo.14
Um ponto relevante é em relação ao aporte proteico. A perda de proteína é frequentemente associada às cardiopatias congênitas, particularmente após o tratamento cirúrgico. Isso porque as proteínas são necessárias para o reparo e crescimento dos tecidos e facilitam a cicatrização de feridas, modulam as respostas inflamatórias e preservam a massa muscular esquelética.16 Assim, uma ingestão proteica que evite um balanço proteico negativo é padrão para pacientes saudáveis e, por isso, recomenda-se a administração de 1,5 g/kg/dia para lactentes e 0,8 g/kg/dia para crianças.15
Além disso, fórmulas contendo peptídeos hidrolisados de proteína do soro do leite podem ser usadas em casos de intolerância a proteínas inteiras.15
Quanto aos micronutrientes, zinco e vitamina D devem ser administrados sempre que uma deficiência for diagnosticada.15
Quanto aos lipídios, a ingestão desse nutriente não deve exceder 3 g/kg/dia e as doses devem ser modificadas monitorando os níveis de triglicerídeos, sendo que a utilização de fórmulas contendo TCM no período pré-operatório pode ser considerada.13,14,16
Ressalta-se que muitos estudos ainda debatem a questão da alimentação no período préoperatório, mas pesquisas envolvendo essa população mostraram que a nutrição adequada antes da intervenção cirúrgica pode levar aos seguintes benefícios: 14
Já no pós-operatório, é comum que os pacientes tenham esternotomia aberta por vários dias e apresentem complicações extracardíacas, como: insuficiência respiratória, quilotórax, insuficiência renal e comprometimento neurológico, levantando preocupações quanto à alimentação enteral. 14
Contudo ainda existem poucos estudos que estabelecem um protocolo para alimentação da criança com cardiopatia congênita após a cirurgia.14
Considerando os desafios do período pós-operatório, alguns estudos que avaliaram a terapia nutricional nesse momento do quadro demonstraram:14
Quadros de crianças portadoras de cardiopatias congênitas são um verdadeiro desafio para toda a equipe multidisciplinar, mas entender sua fisiologia, bem como as necessidades conforme o caso é essencial para que se implemente uma terapia nutricional adequada, o que pode contribuir de forma significativa para o manejo da cardiopatia, reduzindo assim, a chance de complicações e melhorando parâmetros como a desnutrição e o tempo de internação.
Referências bibliográficas
Referências: 1. Mitchell SC, Korones SB, Berendes HW. Congenital heart disease in 56,109 births. Incidence and natural history. Circulation 1971; 43:323-32. 2. Hoffman JI, Kaplan S. The incidence of congenital heart disease. J Am Coll Cardiol 2002; 39:1890-900. 3. Vieira TCL, Trigo M, Alonso RR, Ribeiro RHC, Cardoso MRA, Cardoso ACA et al. Avaliação do Consumo Alimentar de Crianças de 0 a 24 Meses com Cardiopatia Congênita. Arq Bras Cardiol 2007; 89(4):197-203. 4. Lima ZS, França CN, Juliano Y, Amaral JB, Colombo-Souza P, Lopes LA. Avaliação do peso corporal em portadores de cardiopatias congênitas. ConScientiae Saúde, 2013;12(4):555-562. 5. Pinheiro DGM, Pinheiro CHJ, Marinho MJF. Comprometimento do desenvolvimento pondo-estatural em crianças portadoras de cardiopatias congênitas com shunt cianogênico. RBPS. 2008; 21(2): 98-102. 6. Rosa RCM, Rosa RFM, Zen PRG, Paskulin GA. Cardiopatias congênitas e malformações extracardíacas. Rev Paul Pediatr. 2013;31(2):243-51. 7. Amorim LFP, Pires CAB, Lana AMA, Campos AS, Aguiar RALP, Tibúrcio JD, Siqueira AL, Mota CCC, Aguiar MJB. Presentation of congenital heart disease diagnosed at birth: analysis of 29,770 newborn infants. 2008; 84(1): 83-90. 8. Brasil. Ministério da Saúde. DATASUS. Informações de Saúde: Nascidos Vivos Brasil. Disponível em http:// tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm. exe?sinasc/cnv/nvuf.def. 9. American Heart Association. 2017. Disponível em: http:// www.heart.org/HEARTORG/. Acesso em Outubro/22.10. Vieira TCL, Trigo M, Alonso RR, Ribeiro RHC, Cardoso MRA, Cardoso ACA, et al. Assessment of food intake in infants between 0 and 24 months with congenital heart disease. Arq Bras Cardiol.2007;88(6):624-8. 11. Nakagawa M, Hara M, Oshima H, Shibamoto Y, Mizuno K, Asano M. Comparison of 16- multidetector-row computed tomography and angiocardiography for evaluating the central pulmonary artery diameter and pulmonary artery index in children with congenital heart disease. Radiat Med. 2008;26(6):337-42. 12. Araujo SHA, Guterres AS, Barbosa SNAA, Pinho PM, Torres RS, Marinho JLS et al. Aplicação da triagem de risco nutricional em crianças e adolescentes hospitalizados com cardiopatia congênita. Demetra. 2020;15:e42004. 13. Monteiro FPM, Araújo TL, Lopes MVO, Chaves DBR, Beltrão BA, Costa AGS. Estado nutricional de crianças com cardiopatias congênitas. Rev. Latino-Am. Enfermagem. 2012; 20(6)1-9. 14. Martini S, Beghetti I, Annunziata M, Aceti A, Galletti S, Ragni L, Donti A, Corvaglia L. Enteral Nutrition in Term Infants with Congenital Heart Disease: Knowledge Gaps and Future Directions to Improve Clinical Practice. Nutrients. 2021;13(3): 932-945. 15. Luca AC, Miron IC, Mindru DE, Curpan AS, Stan RC, Tarca E et al. Optimal Nutrition Parameters for Neonates and Infants with Congenital Heart Disease. Nutrients. 2022; 14, 1671. 16. Salvatori G, de Rose DU, Massolo AC, Patel N, Capolupo I, Giliberti P, Evangelisti M et al. Current Strategies to Optimize Nutrition and Growth in Newborns and Infants with Congenital Heart Disease: A Narrative Review. J Clin Med. 2022;11(7):1841.
No Brasil, cerca de 19% das mortes de crianças com menos de 1 ano foram causadas por cardiopatias congênitas, tornando-se então, a 2ª principal causa de óbito nessa faixa etária.
Confira neste conteúdo informações sobre prevalência, impacto da desnutrição e importância da terapia nutricional.
No Brasil, cerca de 19% das mortes de crianças com menos de 1 ano foram causadas por cardiopatias congênitas, tornando-se então, a 2ª principal causa de óbito nessa faixa etária.
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