Neste conteúdo abordaremos:
- 1) Diabetes e o impacto na fragilidade;
- 2) A relação entre diabetes e sarcopenia no idoso;
- 3) Recomendações nutricionais para o idoso diabético fragilizado.
Diabetes e o impacto na fragilidade
O Brasil tem passado nas últimas décadas por uma transição epidemiológica onde predominam as doenças crônicodegenerativas, por exemplo, o diabetes mellitus. Essas doenças são típicas de faixas etárias mais avançadas, ao invés das doenças infectocontagiosas, como ocorria anteriormente.1
O idoso, à medida em que envelhece, passa a apresentar alterações naturais da idade, tais como: desregulação do sistema imunológico, declínio das reservas e das funções fisiológicas (senescência) e outras causadas por envelhecimento patológico (senilidade), tornando o envelhecimento saudável um desafio crescente.1
Entre estas condições patológicas, o diabetes mellitus tem sido destaque por tratar-se de uma desordem complexa e com alto potencial de causar danos, inclusive o aumento da morbimortalidade, sendo correto afirmar que esta enfermidade está diretamente relacionada à redução progressiva de capacidades e ao surgimento de problemas que caracterizam a síndrome da fragilidade. 2
Dessa forma, a fragilidade é entendida como uma síndrome clínica, caracterizada pelo estado de vulnerabilidade aumentada e agravada, entre outros fatores, pelo diabetes mellitus, associada a complicações como:1
Diabetes e fatores de risco para o idoso que passa por uma cirurgia
As principais preocupações para o paciente diabético que passa por uma cirurgia são:3
A relação entre diabetes e sarcopenia no idoso
A sarcopenia, isto é, a redução da força muscular, a baixa qualidade muscular e a perda acelerada de massa muscular esquelética, faz parte do quadro de fragilidade do idoso, mas naqueles com diabetes, o risco é ainda maior. 1
A resistência à insulina agrava esta condição por estar relacionada a vários mecanismos que acabam por induzir a sarcopenia, pois a insulina é um hormônio anabólico necessário para a síntese muscular, ao estimular a síntese proteica.4
Assim, é possível afirmar que a redução da sinalização da insulina causa diminuição da síntese e aumento da degradação proteica, além de outras modificações metabólicas, como o descontrole na produção e liberação do hormônio do crescimento (GH), que ao ser reduzido, causa diminuição também do fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), causando menor estímulo anabólico para o tecido muscular. 4
Além disso, a diminuição do GH e do IGF-1 associa-se também à produção aumentada de citocinas pró-inflamatórias, que nos pacientes idosos podem causar a perda de aminoácidos, incremento na quebra de proteínas das fibras musculares e maior estímulo à apoptose das células musculares, podendo resultar em sarcopenia.4
Recomendações nutricionais para o idoso diabético fragilizado
As recomendações nutricionais para o paciente idoso diabético são basicamente as mesmas estabelecidas para os pacientes diabéticos que não apresentam complicações. De acordo com a Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Envelhecimento1, é recomendado:
- Dieta normocalórica ou hipocalórica para diabéticos obesos;
- 55% das necessidades energéticas totais provenientes de carboidratos, com no máximo 15% de carboidratos simples;
- 30% das necessidades provenientes de lipídios, com igual distribuição entre gorduras saturadas, monoinsaturadas e poliinsaturadas;
- 15% provenientes de proteínas, considerando entre 1,0 e 1,2g por kg/peso;
- 300mg ao dia de colesterol;
- 14g de fibras dietéticas a cada 1.000 Kcal ao dia.
No entanto, o paciente diabético em condições de fragilidade, como na sarcopenia, precisa ter um planejamento de terapia nutricional que vai além do controle glicêmico e prevenção da desnutrição, passando a estar atento principalmente às metas de ingestão de proteínas e à adesão de um programa de atividades físicas, ambos de forma personalizada.1
No paciente idoso diabético com sintomas de fragilidade, é comum que ocorra dificuldades para uma alimentação normal e suficiente em nutrientes, 1 sendo indicada a suplementação proteica, principalmente com a proteína do soro do leite (whey protein) devido a benefícios como:5
- Destaca-se ainda entre as fontes de proteínas por ser rica em leucina, o principal aminoácido utilizado pelo organismo para a síntese e recuperação muscular, promovendo recuperação da massa magra perdida, com ganho de peso e benefícios associados à mobilidade e recuperação da força física;6
- Tem melhor tolerância, digestibilidade e absorção;8
- Rico em aminoácidos como a cisteína e a metionina, que melhoram e recuperam a imunidade do organismo;6
- Contém lactoferrina, que tem propriedades antibacterianas e antivirais, estimulando o sistema imunológico para combater as infecções, um dos riscos na fragilidade; 7
- Permite melhor modulação do estresse oxidativo devido à presença de cisteína, essencial para a produção de glutationa.9
Dessa forma, é possível concluir que o diabetes mellitus é um fator determinante para o agravamento da saúde do idoso, impactando diretamente em sua condição de fragilidade. A prevenção, monitoramento, terapia nutricional adequada e prática de atividades físicas serão cada vez mais determinantes para a qualidade de vida à medida que envelhecemos.
Referências bibliográficas
1- Diretriz BRASPEN de Terapia Nutricional no Envelhecimento. Brazilian Society of Parenteral and Enteral Nutrition. RASPEN J 2019; 34 (Supl 3):2-58. 2.Da Silva A.P., da Pureza D.Y., Landre C.B. Síndrome da fragilidade em idosos com diabetes mellitus tipo 2. Acta Paul Enferm. 2015; 28(6):503-9. 3.Soares A.H. Diabetes e cirurgia: da cicatrização à infecção. SBD Sociedade Brasileira de Diabetes. (internet) acesso em novembro de 2021.4. Osaida A.G., Frizzo M.N. Associação da Obesidade e Sarcopenia com Diabetes Mellitus Tipo 2 em idosos. Revista Saúde Integrada. v. 11, n. 22 (2018) – ISSN 2447-7079. 5. Carvalho J.O., de Oliveira B.N., Machado A.A.N., Machado E.P., de Oliveira B.N. Uso de suplementação alimentar na musculação: revisão integrativa da literatura brasileira. Educ. Fís., Esporte e Saúde, Campinas: SP, v. 16, n.2, p. 213-225,abr./jun. 2018. 6. Marik PE. Feeding critically ill patients the right ‘whey’: thinking outside of the box. A personal view. Ann Inten-sive Care. 2015;5(1):51. 7. Rosa L, Cutone A, Lepanto MS, Paesano R, Valenti P. Lactoferrin: A Natural Glycoprotein Involved in Iron and Inflammatory Homeostasis. Int J Mol Sci. 2017;18(9):1985. 8. Dra Maraci Rodrigues. Aula “Como Contribuir para a Tolerância Gástrica e Absorção Intestinal na Nutrição Enteral”. Gastroenterologia Pediátrica Dep. Gastroenterologia HCFMUSP. 9. Abrahão V. Nourishing the dysfunctional gut and whey protein. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2012, 15:480- 484.
Neste conteúdo, você saberá mais sobre como o diabetes pode causar e agravar a síndrome da fragilidade, destacando-se os fatores de risco para o idoso diabético que passa por um procedimento cirúrgico e a relação direta entre o diabetes e a sarcopenia. Estão inclusas ainda recomendações nutricionais para estes pacientes, considerando não apenas o controle glicêmico, mas também o foco no aporte de proteínas necessário para melhorar sua qualidade de vida.
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