Dra. Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso
- - Médica Geriatra formada pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/ UNIFESP)
- - Médica assistente do Ambulatório de Longevos da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da EPM/UNIFESP
- - Vice-Presidente da Sociedade de Geriatria e Gerontologia Seção São Paulo (2016-2018)
Dra. Myrian Najas
- - Docente da Disciplina de Geriatria e Gerontologia de UNIFESP
- - Mestra em Epidemiologia pela UNIFESP Especialista em Gerontologia pela SBGG
Aspectos demográficos do envelhecimento1
A porcentagem de idosos ao redor do mundo tem aumentado a cada década. Entre os 7,3 bilhões de habitantes, no ano de 2015, 8,5 %, ou 617,1 milhões possuíam 65 anos ou mais.
Na Europa, aproximadamente 20% da população já é composta por indivíduos com 65 anos ou mais.
Na América Latina, essa porcentagem ainda é baixa (aproximadamente 7%), porém, esse número deve dobrar em 15 anos. (Gráfico 1)
Gráfico 1 - Porcentagem de indivíduos com 65 anos ou mais por região: 2015, 2030 e 2050

Porcentagem de indivíduos com 65 anos ou mais ao redor do mundo: 2015 e 20502 - Gráfico 2


Brasil 2,3

Estamos preparados para o envelhecimento da nossa população em tão pouco tempo?
Saúde, doença e mortalidade de idosos são influenciados por fatores precoces da vida. Precisamos cuidar da saúde de adultos jovens para que o envelhecimento seja bem-sucedido, ou seja, para que seja possível viver a maior quantidade de anos livres de incapacidades.4
Healthy Life Expectancy (HALE), ou, expectativa de vida livre de doenças: anos vividos com saúde plena. OMS, 2012

No mundo, as mulheres francesas são as que mais apresentam anos vividos com saúde. Elas possuem uma média de mais 13 anos de vida com qualidade após os 65 anos de idade.
No Brasil, as mulheres apresentam as maiores expectativas de vida, se comparadas aos homens, porém, tendem a viver por mais tempo com a saúde ruim6. Em estudo publicado no ano de 2015, os homens brasileiros de 60 anos ou mais, viviam em média mais de 5 anos livres de doenças, enquanto as mulheres vivam mais 4 anos.
Doenças e causas da mortalidade em idosos7
Em estudo publicado no ano de 2007, Cabrera e colaboradores desenharam um perfil de causas de óbitos em idosos de uma região do sul do país. Com o estudo podemos avaliar o impacto da idade nas causas de óbitos. (Tabela 1)7
Tabela 1 - Causas de mortalidade de acordo com a faixa etária

Desnutrição – Definição e intervenção nutricional
Embora pareça lógica, a definição de desnutrição é complexa e tem mobilizado desde fevereiro de 2016 as quatro principais sociedades de nutrição enteral e parenteral – ESPEN (Europa), ASPEN (EUA), PENSA (Ásia) e FELANPE (América Latina). Essas entidades reuniram-se com o objetivo de desenvolver um consenso global sobre critérios de diagnósticos para a mesma. Isso tem sido impulsionado, em parte, pelo fato de existir confusão entre profissionais de saúde em relação ao uso de terminologias como desnutrição, fragilidade, caquexia e sarcopenia8.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, desnutrição é um termo mais abrangente, e se refere às deficiências, excessos ou desequilíbrios na ingestão de energia e/ou nutrientes de um indivíduo9.
Neste conceito, são identificados três grandes grupos de desnutrição9:

e doenças não transmissíveis relacionadas à dieta, como doenças cardíacas, AVC*, diabetes e alguns tipos de câncer.
Vários estudos demonstraram que, ao perderem peso, os idosos têm o dobro do risco de morte, mesmo quando estão com sobrepeso. A perda de peso também aumenta a chance de ter uma fratura de quadril ou ser institucionalizado. A principal causa da desnutrição continua sendo a ingestão inadequada de alimentos e, consequentemente, de nutrientes. A dieta inadequada leva à perda de músculos e ossos, bem como ao aumento de toxinas e ácidos graxos circulantes, que têm sido associados à mortalidade precoce, principalmente em decorrência de doenças cardiovasculares10.
As causas que levam à desnutrição são inúmeras e incluem fatores socioeconômicos, dificuldade de mastigação e deglutição, má absorção, perda do cônjuge, isolamento social e solidão, incapacidade funcional e polifarmácia. A regra mnemônica dos 9 Ds é um recurso muito útil na identificação dos fatores de risco e causas da desnutrição11:

Todos estes fatores, associados ou não, influenciam fortemente o desenvolvimento e agravamento da desnutrição. Segundo Morley (2018), a perda de peso em pessoas idosas pode ser decorrente de três grandes conjuntos de causas: 1) social 2) psicológica e 3) clínica. Essas causas estão resumidas na tabela 212.
Tabela 2 - Causas de perda de peso em idosos
- - Medicamentos
- - Depressão
- - Alcoolismo, anorexia, ou negligência/maus tratos
- - Problemas psiquiátricos
- - Disfagia
- - Problemas orais
- - Problemas financeiros
- - Perambulação e outros problemas relacionados à demência
- - Hipertireoidismo, feocromocitoma
- - Má absorção
- - Problemas de mastigação
- - Orientação de dietas hipossódicas e para hipercolesterolemia
- - Problemas para comprar e preparar refeições
A intervenção nutricional na desnutrição deve ser pautada no tempo em que ocorreu a perda de peso, em sua velocidade e no controle das doenças crônicas pré-existentes. A meta é atingir balanço calórico positivo, ou seja, ingestão de calorias superior ao gasto calórico resultando em aumento da reserva energética garantindo o aporte adequado de micronutrientes.
A recomendação das necessidades calóricas de idosos desnutridos é de 32 a 38 Kcal/kg peso/dia. Deve-se iniciar o tratamento com o menor valor prescrito (32 kcal) ou aquele tolerado pelo paciente, com o aumento gradativo conforme a resposta. Deve-se considerar o peso atual para o cálculo das necessidades13.
O tratamento deve se pautar em aumento de densidade calórica (DC), do volume de alimento tolerado, fracionamento das refeições e uso de suplementos, quando necessário. A DC consiste em aumentar o valor calórico da preparação sem alterar seu volume, utilizando preferencialmente os óleos vegetais pelo seu alto valor energético, 9 kcal por grama, além de quantidades elevadas de carboidratos simples e complexos.
Como terapia coadjuvante podem ser utilizados suplementos nutricionais orais para o aumento da ingestão calórica, proteica e de micronutrientes, com consequente melhora do estado nutricional e sobrevida. A escolha do suplemento deve ser feita segundo necessidades específicas para a melhora da desnutrição e com adequada distribuição nas várias refeições do dia. Vale lembrar que as proteínas possuem alto efeito térmico (20%) e, portanto devem ser aumentadas somente quando as calorias estiverem adequadas. O suplemento não pode ser utilizado como dieta exclusiva, pois não substitui o alimento.
Quando a ingestão oral for insuficiente (≤ 75% ou 3⁄4 do volume dos alimentos oferecidos em 24 horas) para atender às necessidades nutricionais, mesmo com as medidas citadas acima, a Terapia de Nutrição Enteral deverá ser indicada em substituição à ingestão por via oral ou em associação com a mesma. Finalizando, no fluxograma dos passos para a intervenção nutricional na desnutrição é possível identificar a forma de suplementação correta.
Epigenética do envelhecimento e a importância da nutrição para a promoção da saúde
A maioria dos resultados de saúde associados ao envelhecimento resulta de uma interação complexa do genoma de um indivíduo e estímulos externos. Experiências de vida, como estresse, nutrição e exposição ambiental, podem afetar o genoma por meio de modificações, que são alterações bioquímicas do genoma e da cromatina que tornam específicas regiões do genoma mais ou menos acessíveis ao mecanismo de transcrição da célula sem alterar a própria sequência de DNA subjacente. A longevidade tem sido atribuída a uma dieta de “restrição calórica com nutrição ideal”. Um componente genético também é possível, baseado em estudos familiares de centenários de Okinawa14,15.
Recomendações e principais deficiências nutricionais na população idosa
A prevalência de idosos em risco nutricional ou com pobre status nutricional é bastante alta em todos os cenários de assistência à saúde (Gráfico 3)16.
Gráfico 3 - Frequência da desnutrição em idosos:uma perspectiva multinacional usando a miniavaliação nutricional (MNA)

Com o passar dos anos, ocorre aumento do risco nutricional com diminuição das reservas de órgãos e sistemas associados ao enfraquecimento dos controles homeostáticos.
Há marcante modificação da composição corporal17

Gráfico 4 - Percentual de composição corporal aos 22 e 78 anos de idade18


Uso de polivitamínicos: a suplementação de rotina com multivitaminas e minerais não é indicada para reduzir infecções em idosos frágeis e provavelmente não é benéfica, a menos que fique claro que o idoso não está atendendo às necessidades de micronutrientes devido à baixa ingestão geral.
Passo a passo para a prescrição do suplemento nutricional: dicas para o dia a dia em consultório22

2. Como medir a performance física? Sugestão: Teste de velocidade de marcha23

3 - Juntando os dados24

4. Métodos para medidas de força e massa25

5. Quando indicar suplementos nutricionais?

6. Sugestão de fluxograma para intervenção nutricional na desnutrição

Referências bibliográficas
1. U.S. Census Bureau, 2013; Internati onal Data Base. htt ps://www.census.gov/programs-surveys/acs/guidance/comparing-acs-data/2013.html. 2. U.S. Census Bureau, 2013, 2014; Internati onal Data Base, U.S. populati on projecti ons. Htt ps://www.census.gov/programs-surveys/acs/guidance/comparing-acs-data/2013.html. 3. Küchemann BA. Envelhecimento populacional, cuidado e cidadania: velhos dilemas e novos desafi os. Soc. estado. 2012; 27(1):165-180. 4. World Health Organizati on (WHO). ENVELHECIMENTO ATIVO: UMA POLÍTICA DE SAÚDE. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2005. 60p.: il. 5. Konti s V et al. Future life expectancy in 35 industrialised countries: projecti nos with a Bayesian model ensemble. Lancet. 2017 Apr 1; 389(10076): 1323–1335. 6. Camargos MCS, Gonzaga MR. Viver mais e melhor? Esti mati vas de expectati va de vida saudável para a população brasileira. Cad. Saúde Pública, 2015; 31(7):1460-1472. 7. Cabrera MAS, Andrade SM, Wajngarten M. Causas de mortalidade em idosos: Estudo de seguimento de nove anos. Geriatria & Gerontologia. 2007; 1(1): 14-20. 8. Cederholm T, Jensen GL. To create a consensus on malnutriti on diagnosti c criteria: A report from the Global Leadership Initi ati ve on Malnutriti on (GLIM) meeti ng at the ESPEN Congress 2016. Clin Nutr. 2017; 36(1):7-10. 9. World Health Organizati on (WHO). What is malnutriti on? Acessado em: 09/05/2018. Disponível em: htt p://www.who.int/features/qa/malnutriti on/en/. 10. Alibhai SM, Greenwood C, Payett e H. An approach to the management of unintenti onal weight loss in elderly people. CMAJ. 2005; 172(6):773-80. 11. Gorzoni ML, Fabbri RMA, Pires SL. Mnemônica em geriatria. Geriatria & Gerontologia. 2010; 4(2):85-9. 12. Morley JE. Defi ning undernutriti on (malnutriti on) in older persons. J Nutr Health Aging. 2018; 22(3): 308-310. 13. Gaillard C, Alix E, Sallé A et al. Energy requirements in frail elderly people: A review of the literature. Clin Nutr. 2007; 26(1):16-24. 14. Willcox DC, Willcox BJ, Todoriki H et al. Caloric restricti on and human longevity: what can we learn from the Okinawans? Biogerontology 2006; 7:173. 15. Willcox BJ, Willcox DC, He Q et al. Siblings of Okinawan centenarians share lifelong mortality advantages. J Gerontol A Biol Sci Med Sci 2006; 61:345. 16. Kaiser MJ, Bauer JM, Ramsch C et al. Frequency of Malnutriti on in Older Adults: A Multi nati onal Perspecti ve Using the Mini Nutriti onal Assessment. J Am Geriatr Soc. 2010; 58(9):1734-8. 17. Lardiés-Sánchez B and Sanz-París A. Sarcopenia and Malnutriti on in the Elderly. IntechOpen. Disponível em: htt ps://www.intechopen. com/books/frailty-and-sarcopenia-onset-development-and-clinical-challenges/sarcopenia-and-malnutriti on-in-the-elderly. 18. Nowson C, O’Connell S. Protein Requirements and Recommendati ons for Older People: A Review. Nutrients. 2015; 7(8):6874-99. 19. Bauer J, Biolo G, Cederholm T et al. Evidence-based recommendati ons for opti mal dietary protein intake in older people: a positi on paper from the PROT-AGE Study Group. J Am Med Dir Assoc. 2013; 14(8):542-59. 20. Nati onal Osteoporosis Foundati on. Calcium/ Vitamin D. Disponível em: htt ps://www.nof.org/pati ents/treatment/calciumvitamin-d/. Acessado em: 20/04/2018. 21. Montgomery SC, Streit SM, Beebe M et al. Micronutrient Needs of the Elderly. Nutr Clin Pract. 2014 Aug;29(4):435-444. 22. Studenski SA, Peters KW, Alley DE et al. The FNIH sarcopenia project: rati onale, study descripti on, conference recommendati ons, and fi nal esti mates. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014; 69(5):547-58. 23. Middleton A, Fritz SL, Lusardi M. Walking Speed: The Functi onal Vital Sign. J Aging Phys Act. 2015; 23(2): 314–322. 24. Cruz-Jentoft AJ, Baeyens JP, Bauer JM et al. Sarcopenia: European consensus on defi niti on and diagnosis: Report of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Age Ageing. 2010; 39(4):412-23. 25. Morley JE, Abbatecola AM, Argiles JM et al. Sarcopenia With Limited Mobility: An Internati onal Consensus. J Am Med Dir Assoc. 2011; 12(6):403-9. 26. Deutz NP et al. Protein intake and exercise for opti mal muscle functi on with aging: Recommendati ons from the ESPEN Expert Group. Clin Nutr. 2014 Dec; 33(6): 929–936.
A porcentagem de idosos ao redor do mundo tem aumentado a cada década. Entre os 7,3 bilhões de habitantes, no ano de 2015, 8,5 %, ou 617,1 milhões possuíam 65 anos ou mais.1
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