Neste conteúdo abordaremos:
- 1) A importância da nutrição no momento do diagnóstico de câncer;
- 2) O preparo do sistema imunológico antes do tratamento;
- 3) Nutrição no manejo dos efeitos colaterais;
- 4) Estratégias nutricionais para a recuperação do organismo no pós-câncer.
A importância da nutrição no momento do diagnóstico de câncer
As estimativas mostram que, a cada ano, aproximadamente 600.000 novos casos de câncer1 são diagnosticados no Brasil e a prevalência de desnutrição entre esses pacientes pode chegar a 80%, principalmente entre adultos e pessoas diagnosticadas já em estágios mais avançados da doença. Trata-se de uma situação tão grave que até 20% dos óbitos em pacientes oncológicos resulta da desnutrição e não da doença em si. 1
A desnutrição e as desordens metabólica são, dessa forma, especialmente graves para o paciente com câncer, estando associadas a:1
- Diminuição da resposta ao tratamento oncológico;
- Impacto negativo nos resultados de cirurgias;
- Redução das defesas imunes do organismo;
- Catabolismo muscular e surgimento ou agravamento de sarcopenia e caquexia;
- Perda de funcionalidade e da qualidade de vida;
- Aumento da toxicidade;
- Piores desfechos clínicos.
O paciente oncológico sofre alterações no metabolismo que ocorrem de forma gradativa em todas as vias metabólicas. Podemos destacar algumas como:2
O principal procedimento relativo à nutrição no momento do diagnóstico do paciente internado com câncer é a triagem e a avaliação nutricional, realizado já no diagnóstico da doença, em até 48 horas e depois repetida ao longo do tratamento, inclusive em pacientes não diagnosticados com desnutrição na triagem inicial. Deve-se considerar principalmente a ingestão alimentar, as alterações no peso, funcionalidade, composição corporal e Índice de Massa Corporal, visando detectar os pacientes em risco nutricional e déficit nutricional e iniciar imediatamente a terapia nutricional indicada.1 O Consenso Nacional de Nutrição Oncológica recomenda que os pacientes ambulatoriais tenham, da mesma forma, a Terapia Nutricional iniciada imediatamente após o diagnóstico.13
Dessa forma, é possível ajustar o consumo pela alimentação ou por meio de suplementos nutricionais orais quando os nutrientes não podem ser fornecidos através dos alimentos, especialmente de:
O preparo do sistema imunológico antes do tratamento
Ao iniciar o tratamento imunológico, o paciente precisa, além de prevenir ou reverter a desnutrição calórica e proteica, fortalecer o seu sistema imune com consequente melhora na tolerância ao tratamento e prevenção de outras enfermidades e infecções.5
Estudos comprovam que a imunonutrição pode trazer também benefícios para os pacientes em tratamento sistêmico, diminuindo a toxicidade, melhorando padrões imunológicos e, consequentemente, a tolerância ao tratamento e estado nutricional.
Nutrição no manejo dos efeitos colaterais do tratamento oncológico
Entre os diversos efeitos colaterais pelos quais os pacientes passam durante um tratamento oncológico, destacamos alguns como a mucosite, presença de náuseas e enjoos e perda de apetite por impactarem diretamente nas dificuldades de alimentação e consequente aumento de riscos para a desnutrição e todas as consequências associadas.1
A abordagem nutricional no manejo dos efeitos colaterais para o paciente oncológico, envolve melhorar a aceitação dos alimentos e suplementos, além de tornar mais brandos esses efeitos colaterais:1,9
Náuseas e vômitos: evitar alimentos gordurosos e muito quentes, preferindo alimentos e bebidas frias e refrescantes. Preferir sabores cítricos e alimentar-se várias vezes ao dia, em quantidades pequenas.10
Feridas na boca: dar preferência por líquidos e em pequenas quantidades ao longo do dia.10
É fundamental garantir a quantidade de proteínas e vitaminas e minerais, sendo recomendada em muitos casos a terapia nutricional.
Estratégias nutricionais para a recuperação do organismo no pós-câncer
Após vencer o câncer, o paciente precisa continuar atento ao seu estado nutricional. Assim, para prevenir e tratar, quando necessário, a desnutrição, principalmente a calórico-proteica, é preciso iniciar um processo de recuperação nutricional, a fim de recuperar a massa muscular, a mobilidade e o sistema imunológico, principalmente.
Dessa forma, além de reiniciar e manter hábitos de vida saudáveis, tais como ter uma alimentação equilibrada e manter a prática regular de atividades físicas, é preciso que o paciente mantenha um aporte adequado de nutrientes, especialmente de proteínas e outros, como o ômega 3 e as vitaminas e minerais antioxidantes, com acompanhamento de uma equipe multidisciplinar responsável por toda a jornada do paciente, a fim de ajustar quantidades, sempre de forma individualizada, para ajudar a evitar o ressurgimento da doença e recuperar, na medida do possível, a qualidade de vida. 1,12
Referências bibliográficas
1. Diretriz Braspen de Terapia Nutricional no Paciente com Câncer e Braspen recomenda: Indicadores de Qualidade em Terapia Nutricional. BRASPEN J 2019; 34 (Supl 1) 2. Maia F.M.M., Santos E.B., Reis G.E. Estresse oxidativo e lipoproteínas plasmáticas em pacientes com câncer. Einstein (São Paulo) 12 (4) • Oct-Dec 2014 3- Souza M.R.G.D. Avaliação do uso de ômega 3 em pacientes oncológicos: uma revisão de literatura. Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências da Saúde. Departamento de Nutrição. 2014 4- Rohrnkohl C.C., Carniel A.P., Colpo E. Consumo de antioxidantes durante tratamento quimioterápico. ABCD, arq. bras. cir. dig. 24 (2). Jun 2011. 5- Machon C, et al. Immunonutrition before and during radiochemotherapy: improvement of inflammatory parameters in head and neck cancer patients. Support Care Cancer. 2012;20(12):3129-35. 6- Perini J.A.L., Stevanato F.B., Sargi S.C., Visentainer J.E.L., Dalalio M.M.o., Mstshushita M., de Souza N.E., Visentainer J.V. Ácidos graxos poliinsaturados n-3 e n-6: metabolismo em mamíferos e resposta imuneRev. Nutr., Campinas, 23(6):1075-1086, nov./dez., 2010. 7- . Diretrizes Sociedade
Brasileira de Diabetes. Princípios gerais da orientação nutricional no diabetes mellitus. 2017/2018. <link> 8- de Melo C.W., Mesquita Júnior D., Araújo J.A.P., Catelan T.T.T., Souza A.W.S., da Silva NN.P. et al . Sistema imunitário: Parte I. Fundamentos da imunidade inata com ênfase nos mecanismos moleculares e celulares da resposta inflamatória. Rev. Bras. Reumatol. [Internet]. 2010 Aug [cited 2021
May 12] ; 50( 4 ): 434-447. <link> 9- Inca. Instituto Nacional do Câncer. Ministério da Saúde. Tratamento do Câncer Última modificação em 26/11/2018 e acesso em 10 de junho de 2021. 10- Villela N.B., and Rocha R. Manual básico para atendimento ambulatorial em nutrição [on-line]. Scielo Books. 2nd. ed. rev. and enl. Salvador: EDUFBA, 2008. 120 p. ISBN 978-85-232-0497-6. 11- Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva INCA. Coordenação Geral de Gestão Assistencial. Hospital do Câncer I. Serviço de Nutrição e Dietética. Ministério da Saúde. Volume II 2ª Edição revista, ampliada e atualizada. Vol. II. 2016. 41-49 p. 12- Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva INCA. Estilo de vida saudável durante e após o tratamento do câncer. Alimentação saudável. Rio de Janeiro 2017. 13. Consenso Nacional de Nutrição Oncológica. Instituto Nacional de Câncer. – Rio de Janeiro: INCA.
Saiba mais sobre o papel da nutrição durante a jornada do paciente oncológico, desde a descoberta do diagnóstico, até o pós-tratamento, onde serão abordados:
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