Neste conteúdo, iremos abordar:
- Cirurgia: Trauma Planejado que exige Cuidados Essenciais;
- O que é o Programa Impacto Positivo (PIP)?;
- Nutrição Pré-Operatória;
- Interrupção do Tabagismo;
- Otimização do Controle Glicêmico;
- Revisão dos Medicamentos em Uso.
Cirurgia: Trauma Planejado que exige Cuidados Essenciais 1-3
A cirurgia é um procedimento invasivo que envolve a remoção ou reparação de um órgão ou parte deste. O paciente que irá submeter-se a uma intervenção cirúrgica deve estar idealmente na melhor forma física e mental, mas nem sempre isso é possível.
Estudos afirmam que pacientes idosos, desnutridos, ansiosos ou que tenham baixo condicionamento físico antes da cirurgia, em geral, apresentam recuperação mais lenta e estão sujeitos a desenvolverem mais complicações após a cirurgia.
A integração entre exercícios físicos, nutrição adequada e suporte psicológico, além do ajuste de doses de medicamentos em uso e do controle de comorbidades eventualmente existentes, como o diabetes mellitus ou a hipertensão arterial, contribuem sobremaneira para a recuperação pós-operatória e devem ser empregadas sempre que for possível.
Sendo assim, o período entre diagnóstico e cirurgia, que pode levar semanas, deve ser muito bem aproveitado para preparar o paciente, com o objetivo de contribuir com capacidade de suportar o trauma cirúrgico.
O que é o Programa Impacto Positivo (PIP)? 2
O Programa Impacto Positivo foi idealizado e desenvolvido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e conta com a realização exclusiva da Nestlé Health Science, tendo o papel de ajudar o paciente a modificar os fatores de risco, diminuindo as chances de complicações pré e pós-operatórias a partir de treinamento com exercícios para melhorar o condicionamento físico, além de suporte nutricional e psicológico, melhorando assim, a reserva fisiológica e reduzindo o estresse antes da cirurgia.
Nutrição Pré-Operatória 1-8
A desnutrição pode afetar adversamente a evolução clínica dos pacientes, trazendo consequências como:
- Aumento no tempo de permanência hospitalar;
- Redução da imunidade;
- Complicações pós-operatórias, como infecções;
- Retardo na cicatrização de feridas;
- Aumento da taxa de mortalidade.
A avaliação nutricional é de grande importância no período pré-operatório, tendo como objetivo principal definir o grau de desnutrição, identificar os indivíduos em risco de desenvolver complicações decorrentes de déficits nutricionais e instituir precocemente a terapia nutricional especializada.
Esse diagnóstico deverá ser confirmado por médico especialista ou por nutricionista, podendo ser a partir do exame de dosagem de albumina no sangue (abaixo de 3 mg/dL, aumenta muito a chance de complicações pós-operatórias) ou outros métodos aplicados pela nutricionista. 1-8
Terapia Nutricional na Desnutrição 1-8
A Terapia Nutricional deverá ser elaborada e conduzida pelo nutricionista, considerando estratégias como:
- Dieta hiperproteica e hipercalórica;
- Vitaminas e oligoelementos em quantidades adequadas;
- Suplementos nutricionais líquidos (200 ou 300 ml);
- Imunonutrição com nutrientes como: arginina, ômega 3 e nucleotídeos antes de cirurgias, com papel importante na cicatrização, no estímulo do sistema imunológico, na redução das complicações infecciosas e no tempo de internação.
Leia mais sobre os benefícios da imunonutrição pré-cirurgia.
Interrupção do Tabagismo 9,10
Muitos estudos, avaliando milhares de fumantes, afirmam que o tabagismo interfere de maneira negativa na recuperação cirurgia, apresentando retardo na cicatrização e importante aumento de complicações pós-operatórias, principalmente infecções da ferida cirúrgica e pneumonia. Essas complicações são mais frequentes quanto maior o tempo que o paciente fuma e a quantidade de cigarros fumados ao dia.
A interrupção do tabagismo por 3-4 semanas antes de uma cirurgia de grande porte diminui em 30% a 50% a chance de complicações pulmonares e da ferida operatória.
Otimização do Controle Glicêmico 11,12
Pacientes com diabetes são mais suscetíveis a complicações pós-operatórias e a um pior controle glicêmico antes e depois da cirurgia, aumentando a chance de infecção e tendo como fator de risco, tanto a hipoglicemia, quanto a hiperglicemia.
Os períodos pré e pós-operatório são geralmente acompanhados de jejum, em que há risco de hipoglicemia, seguido por estresse metabólico (situação em que o organismo produz uma série de hormônios catabolizantes que causam resistência à ação da insulina e aumentam o risco de hiperglicemia).
Recomendações:
- Mantenha a hemoglobina glicada do paciente inferior a 8,5%;
- Verifique se o seu paciente está capacitado para os cuidados no período pré e pósoperatório: para isso é importante ter uma consulta recente com endocrinologista, nutricionista e equipe de saúde para assegurar que o paciente esteja apto a tomar decisões;
- Pacientes que usam cronicamente insulina (insulinodependentes) podem reduzir para metade ou um terço da dose habitual de insulina, enquanto pacientes diabéticos podem precisar suspender hipoglicemiantes orais 1 ou 2 dias antes da cirurgia, mantendo uma dieta rigorosa e monitorando a glicemia capilar;
- Tente reduzir o período de jejum do seu paciente: o ideal é só pular uma refeição, por isso, prefira agendar a cirurgia de pacientes diabéticos pela manhã, sempre que possível;
- A glicemia deve ser verificada com maior frequência antes e após a cirurgia, de preferência a cada 2 a 4 horas e, o ideal é que esteja entre 108 mg/mL e 180 mg/mL, mas glicemias entre 72 mg/mL e 216 mg/mL são aceitáveis. Também é fundamental evitar grandes variações nestes níveis;
- Lembrar que a avaliação pré-operatória do paciente diabético deve obrigatoriamente incluir também avaliação da função renal, da função cardiovascular e neurológica.
Revisão dos Medicamentos em Uso 2,13,14
É muito comum que o paciente utilize diversos medicamentos, muitas vezes com doses indevidas. Com isso, sempre existe o risco de interações medicamentosas, principalmente no período pós-operatório, quando possivelmente outros medicamentos também serão prescritos. É fundamental que o cirurgião e o interferir no controle da pressão arterial, na coagulação do sangue ou predispor a infecções.
Recomenda-se suspender, no pré-operatório, todos os medicamentos que não sejam absolutamente necessários, reduzindo a sua dose progressivamente. A retirada abrupta de alguns medicamentos (cardiovasculares, de efeito psiquiátrico ou no sistema nervoso central) pode ser perigosa.
Portanto, os cuidados perioperatórios, que vão desde o diagnóstico, até o dia da cirurgia, podem contribuir para que haja menos riscos inerentes ao procedimento cirúrgico e é de interesse de todos, paciente, equipe médica e todo o sistema de saúde, que as complicações sejam reduzidas ao máximo e que, quando ocorram, sejam de fácil manejo.
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A cirurgia é um procedimento invasivo que envolve a remoção ou reparação de um órgão ou parte deste, isto é, um trauma planejado que exige atenção. Este conteúdo aborda quais os cuidados essenciais que irão contribuir para que o paciente que irá se submeter a intervenção cirúrgica, esteja idealmente na melhor forma física e mental, o que irá contribuir com uma melhor recuperação e prevenção de possíveis complicações.
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