Envelhecimento e as transformações da pele
Cada vez mais presente em debates políticos e sociais, o aumento da expectativa de vida da população associado à queda da natalidade, inclusive nos países em desenvolvimento, faz com que se observe em poucas gerações uma acelerada transição demográfica. Esse processo, também em curso no Brasil, traz a necessidade de discutir o processo de envelhecimento em diversas esferas. Uma preocupação crescente diz respeito ao aumento da dependência, transformação dos serviços e da infraestrutura do setor de saúde como o objetivo de atender a população idosa. Em contrapartida, medidas visando o prolongamento de uma vida saudável tornam-se vitais, de forma a manter a atividade física, psíquica e intelectual inclusive na velhice.1
Um aspecto fundamental para o envelhecimento saudável é o cuidado com a pele. O processo de desgaste de um organismo pode ser caracterizado pela não-substituição de células somáticas quando as mesmas morrem, sendo bastante significativo no caso da pele, maior órgão do corpo. Essa desaceleração da regeneração celular se manifesta através da perda de tecido fibroso, pela redução das redes vascular e glandular, com perda de até 50% das funções normais até a meia idade.² Esse processo é influenciado diretamente por hábitos alimentares e estilo de vida das pessoas, sendo especialmente importante o cuidado com fatores como exposição a radiação solar, consumo de álcool, uso de drogas, exposição à poluição e a condições climáticas extremas, bem como o sobrepeso e disfunções metabólicas.
O envelhecimento da pele se dá pelo afinamento da epiderme e da derme, redução da elasticidade e da secreção do sebo pelas glândulas. Com isso, o sistema imunológico fica comprometido, ocorre a fragilização dos vasos sanguíneos, entre outras alterações, destacando a importância de cuidados específicos com a pele do idoso. As pessoas acima de 65 anos de idade ou mais, apresentam perda de aproximadamente 20% da espessura da derme, o que pode favorecer a penetração de agentes infecciosos, bem como a formação de quebras cutâneas.3

Um importante estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, em 2006, investigou as principais queixas em mais de 50 mil consultas dermatológicas nas cinco regiões do Brasil. Esta pesquisa revelou que os tumores cutâneos (benignos, pré-malignos e malignos), a ceratose actínica foi a causa de consulta mais freqüente no grupo de 65 anos e mais (17,2%), seguida pelo carcinoma basocelular (9,8%).4
Os principais diagnósticos de enfermagem da pele idosa e suas intervenções
Apesar da relevância e destaque que muitas doenças de pele têm, na enfermagem há lugar de destaque para outros diagnósticos importantes visando a promoção da saúde e prevenção de doenças. Seguem os principais diagnósticos destacados na literatura.5
- 1) Risco de lesão por pressão: Suscetibilidade à lesão localizada da pele e/ou tecido subjacente, normalmente sobre saliência óssea, em consequência de pressão, ou pressão combinada com forças de cisalhamento. Fatores de risco: desidratação, hidratação da pele, nutrição inadequada, pele ressecada, redução na mobilidade, tabagismo, período prolongado de imobilidade em superfície rígida.
- 2) Risco de integridade da pele prejudicada: Suscetibilidade a alteração na epiderme e/ou derme que pode comprometer a saúde. Fatores de risco: extremos de idade, hidratação, pressão sobre saliência óssea.
- 3) Integridade da pele prejudicada: Epiderme e/ou derme alterada. Fatores de risco: alteração na integridade da pele, hematoma, nutrição inadequada, hidratação, extremos de idade.
- 4) Proteção ineficaz: diminuição na capacidade de se proteger de ameaças internas ou externas, como doenças ou lesões. Fatores de risco: alteração na coagulação, alteração na transpiração, deficiência na imunidade, fraqueza, imobilidade, lesão por pressão, prurido.
- 5) Risco de integridade tissular prejudicada: suscetibilidade a dano em membrana mucosa, córnea, sistema tegumentar, fáscia muscular, músculo, tendão, osso, cartilagem, cápsula articular e/ou ligamento que pode comprometer a saúde. Fatores de risco: estado nutricional desequilibrado, volume de líquidos deficiente, extremos de idade, mobilidade prejudicada, trauma vascular.
- 6) Risco de infecção: Suscetibilidade à invasão e multiplicação de organismos patogênicos que pode comprometer a saúde. Fatores de risco: alteração na integridade da pele, desnutrição, tabagismo.
Intervenções da enfermagem nos aspectos preventivos
Listados os principais diagnósticos e fatores de riscos relacionados ao processo de envelhecimento da pele, seguem as principais intervenções de responsabilidade da enfermagem em sua atuação preventiva:6, 7
- 1) Evitar banhos quentes e demorados - hábito que promove maior ressecamento da pele. Garantir a higienização utilizando sabonetes neutros;
- 2) Hidratar a pele do idoso, utilizando emolientes hidratantes - de preferência após o banho para melhor absorção;
- 3) Organizar o ambiente do idoso com o objetivo de evitar traumatismos e decorrentes hematomas, rasgaduras de pele (skin tears) e quedas. (atenção com: grades da cama, cadeira de rodas e mobiliários, dando preferência à modelos arredondados, com menor risco de causarem lesões);
- 4) Mudar a posição do idoso quando acamado (de 3 em 3 horas), reduzir a pressão nos calcanhares e estimular a circulação mediante elevação dos pés;
- 5) Trocar com freqüencia fraldas, garantindo a limpeza e mantendo o idoso seco. Objetivo dessa medida é reduzir o risco de dermatites associadas à incontinência e irritações na pele;
- 6) Cortar as unhas regularmente e de forma correta;
- 7) Prestar especial atenção à manipulação do paciente, evitando atrito e/ou pressão em áreas fragilizadas;
- 8) Promover a nutrição e hidratação adequadas contribuindo para uma pele mais resistente e elástica, condição fundamental para mantê-la íntegra. A dieta deverá ser balanceada, contendo todos os nutrientes necessários e em quantidades adequadas para as necessidades específicas do indivíduo;
- 9) Ingerir água com freqüência, o idoso tem menos sede e, portanto, é mais propenso a ficar desidratado.
Conclusão
O processo de envelhecimento revela o comprometimento de diversos processos fisiológicos. A pele como maior órgão do corpo humano participa desse processo, tornando-se frágil e consequentemente aumentando os riscos de lesão. Atualmente dispomos de avançadas tecnologias para a prevenção e tratamento de lesões. Com o crescimento da população idosa em todo o mundo, a enfermagem deve estar preparada para tratar, orientar, treinar e atuar efetivamente na prevenção e cuidado da pele do idoso.
Referências bibliográficas
1. Saad P. Envelhecimento populacional: demandas e possibilidades na área de saúde. In: Guimarães JRS. Demografia dos negócios: campo de estudo, perspectivas e aplicações, 2006. Disponível em:< http://www.abep.org.br/~abeporgb/publicacoes/index.php/series/issue/view/10>.
2. Sociedade Brasileira de Dermatologia. Envelhecimento. [acesso em 16 de setembro de 2019] Disponível em
3. Menoite E, Santos V, Santos AS. A pele na pessoa idosa. Journal of aging and inovation [revista em internet] 2013 março[acesso em 10 de setembro de 2019] Disponível em http://journalofagingandinnovation.org/pt/volume2-edicao1-janeiro2013/a-pele-na-pessoa-idosa/
4. Cuidados com a pele da pessoa idosa. Sociedade Brasileira de Dermatologia, 2019. [acesso em 16 de setembro de 2019] Disponível em
5. Diagnósticos de enfermagem da NANDA-I: definições e classificação 2018-2020 [recurso eletrônico] /[NANDA International]; tradução: Regina Machado Garcez; revisão técnica: Alba Lucia Bottura Leite de Barros... [et al.]. – 11. ed. – Porto Alegre: Artmed
6. Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina http://www.saude.sc.gov.br/ option=com_content&view=article&id=4915&Itemid=258 Manter a hidratação da pele de pacientes acamados pode evitar úlcera por pressão [acesso em 19 de setembro 2019] Disponível em http://www.saude.sc.gov.br
7. Lira ALBV. Sá JD, Nogueira ILA, Medeiros MDC, Fernandes MICD, Vitor AF. Integridade da pele em idosos: revisão da literatura segunda as cartas de promoção a saúde. Cogitare Enfermagem, 2012 [acesso em 18 de setembro de 2019] 17(04). Disponível em https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/30389/19664
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Cada vez mais presente em debates políticos e sociais, o aumento da expectativa de vida da população associado à queda da natalidade, inclusive nos países em desenvolvimento, faz com que se observe em poucas gerações uma acelerada transição demográfica.
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