Neste conteúdo iremos abordar:
- 1. Definição e epidemiologia;
- 2. Diagnóstico da disfagia sarcopênica;
- 3. Tratamento.
Já é fato que o processo do envelhecimento acarreta em inúmeras mudanças físicas, metabólicas, psicológicas e sociais do indivíduo. Também, sabe-se que em decorrências dessas mudanças e de acordo com o estilo de vida, algumas condições podem surgir, tais como a osteoporose e a sarcopenia.
Definição e epidemiologi
A sarcopenia é uma síndrome caracterizada pela diminuição da massa muscular e da força, de forma global e progressiva, implicando em grandes prejuízos à funcionalidade e autonomia. 1
A redução de massa e força muscular pode, por sua vez, desencadear outros cenários, dentre eles, a disfagia – sendo então denominada de disfagia sarcopênica. Isso acontece quando essa perda atinge os músculos responsáveis pela deglutição, que são: pressão dos lábios, língua, região velofaríngea, laringe e cricofaríngeo.²
A perda de massa muscular da deglutição, quando relacionada à idade, pode se manifestar como uma diminuição da espessura da língua, do músculo gênio-hióideo e da parede da faringe, ocorrendo também um aumento no tamanho do lúmen da faringe.³
Essas alterações contribuem para a diminuição da força da língua, redução da amplitude de movimento da língua, contração enfraquecida do músculo faríngeo e resistência deteriorada dos músculos da deglutição, sendo todos esses, fatores de risco para a disfagia.³
A disfagia é definida como a dificuldade em deglutir o alimento no trajeto que engloba, desde a cavidade oral, até o estômago. Alguns dos sintomas comuns entre pacientes disfágicos são:4
- Regurgitação;
- Aspiração traqueobrônquica;
- Dor retroesternal (independente do esforço físico);
- Pirose;
- Rouquidão;
- Soluço;
- Odinofagia (dor ao engolir os alimentos).
É válido mencionar que estudos apontam que a sarcopenia é considerada um fator de risco independente para o surgimento da disfagia. Da mesma forma, a disfagia pode levar a um quadro de sarcopenia, quando o seguinte ciclo é instalado:³
Condição na qual há redução de massa e força muscular nos músculos relacionados à deglutição, a disfagia sarcopênica traz uma série de impactos negativos ao paciente, como a desnutrição e o risco aumentado de pneumonia. Entenda aqui os critérios diagnósticos desse quadro e as recomendações de tratamento.
Além dos sintomas, a presença de disfagia está relacionada com outros desfechos desfavoráveis, tais como:
- Diminuição na qualidade de vida do indivíduo;
- Pneumonia aspirativa;
- Isolamento social;
- Desnutrição e desidratação: A modificação na consistência e a dificuldade na ingestão de alimentos podem levar a um consumo inadequado de calorias e nutrientes, assim como a baixa oferta e/ou não aceitação de líquidos espessados pode levar a desidratação.
Diagnóstico da disfagia sarcopênica
Embora não existam critérios diagnósticos de ouro para a disfagia sarcopênica, muitas ferramentas têm sido utilizadas para a avaliação.4
O diagnóstico de disfagia sarcopênica depende muito da avaliação da função de deglutição, sendo primordial a avaliação abrangente e a intervenção imediata.4
O consenso sobre o diagnóstico de disfagia sarcopênica foi estabelecido na 19ª Reunião Anual da Sociedade Japonesa de Reabilitação de Disfagia e contempla 5 passos, sendo eles:4
Tratamento da disfagia sarcopênica
O tratamento da disfagia sarcopênica requer uma estratégia multidisciplinar, sendo que as intervenções para quebrar o ciclo entre a disfagia e a desnutrição incluem: fortalecimento muscular da deglutição, fisioterapia, terapia ocupacional, suporte nutricional e modificação da textura dos alimentos.
Abaixo, seguem as intervenções multidisciplinares indicadas para um tratamento adequado da disfagia:4
Em relação às condutas nutricionais, o ESPEN recomendou recentemente uma ingestão energética de 30 kcal/kg de peso corporal/dia e uma ingestão proteica de pelo menos 1,0 g/kg de peso corporal/ dia em idosos. Porém, a ingestão de proteínas pode atingir 1,2-1,5 g/kg de peso corporal/dia em doenças agudas ou crônicas. Já em pacientes sarcopênicos, foi demonstrado que a ingestão de 1,2 g/peso corporal ideal/dia (kg) de proteína pode ser eficaz para melhorar a força muscular da língua. Nesse sentido, a utilização de suplementos proteicos pode ser uma estratégia a ser considerada, visando facilitar o atingimento dessas recomendações.5
Estudos apontam que a alteração da textura dos alimentos, em conjunto com o espessamento de líquidos ralos, deve ser recomendada para melhorar a segurança e a eficiência da alimentação oral em pacientes com disfagia sarcopênica.
Em 2016, um estudo avaliou 133 pacientes idosos com disfagia orofaríngea e demonstrou que apenas 38,2% dos pacientes com estado nutricional inadequado conseguiram deglutir líquido com segurança. Além disso, 61,7% dos pacientes necessitaram de espessante de viscosidade de néctar.
Esse achado sugeriu que a modificação da textura dos alimentos é necessária para pacientes com disfagia sarcopênica, garantindo a segurança da deglutição.6
Assim, o uso de espessantes pode ser recomendado pelo profissional de saúde responsável quando o paciente disfágico apresentar falta de força na propulsão da língua para conduzir o bolo alimentar através da orofaringe, bem como é recomendado para indivíduos sem força muscular faríngea.7
É válido mencionar que o nível de espessamento deve ser ajustado de acordo com a gravidade da disfagia do paciente e, deve-se salientar que se o espessamento for feito em excesso, pode formar resíduos orais ou faríngeos que podem agravar a invasão das vias aéreas pelos alimentos.8
Assim, conclui-se que a disfagia sarcopênica mostra um quadro de significativo impacto na qualidade e na perspectiva de vida do paciente, devendo ser tratado de forma multidisciplinar, visando garantir o aporte nutricional adequado e também para sua segurança.
Clique aqui e acesse!
Referências bibliográficas
1. Diz JBM, et al. Prevalência de sarcopenia em idosos: resultados de estudos transversais amplos em diferentes países. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2015;18(3):665-78. 2. Andrade PA, et al. Importância do rastreamento de disfagia e da avaliação nutricional em pacientes hospitalizados. Einstein. 2018;16(2):1-6. 3. Chen KC, et al. Sarcopenic Dysphagia: A Narrative Review from Diagnosis to Intervention. Nutrients. 2021;13(11):40-3. 4. Fonsêca ICDA, et al. Disfagia Sarcopênica em idosos: revisão integrativa. Research, Society and Development. 2022;11(6):1-9. 5. Volkert D, et al. ESPEN guideline on clinical nutrition and hydration in geriatrics. Clin. Nutr. 2019;38:10-47. 6. Carrion S, et al. Nutritional status of older patients with oropharyngeal dysphagia in a chronic versus an acute clinical situation. Clin. Nutr. 2017;36:1110-6. 7. Steele C, et al. The Influence of Food Texture and Liquid Consistency Modifi cation on Swallowing Physiology and Function: A Systematic Review. Dysphagia. 2015;30(1):2-26.
Condição na qual há redução de massa e força muscular nos músculos relacionados à deglutição, a disfagia sarcopênica traz uma série de impactos negativos ao paciente, como a desnutrição e o risco aumentado de pneumonia. Entenda aqui os critérios diagnósticos desse quadro e as recomendações de tratamento.
Faça o Login ou Cadastre-se para ver todos os conteúdos exclusivos